domingo, 2 de agosto de 2009

A crise de valores na sociedade contemporânea


Valor: Princípio que norteia a conduta humana.

Os valores ou a falta de valores que tem causado tantos problemas para a humanidade tem seu suporte material, sua dimensão de concretude na prática cotidiana dos indivíduos, em suas ações e atitudes.

Assim, para compreender os valores, é necessário conhecer a ação humana. Porém, é preciso considerar que a percepção precede a ação, ou seja, uma determinada percepção ou leitura de mundo implica num determinado tipo de ação ou relação com este mesmo mundo.

Nesse sentido, Leonardo Boff nos ajuda a compreender essa questão quando afirma que “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.”A partir daí podemos depreender que para que possamos compreender a percepção que as pessoas têem do mundo e consequentemente, o sentido de suas ações, é fundamental que compreendamos como se deu nosso processo de socialização.

Isto posto, identificamos a necessidade de fazermos uma breve retrospectiva histórica. Devido aos propósitos deste texto optamos por fazer um recorte na história e começaremos a análise a partir da transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Um elemento marcante nessa transição é o que Weber e Habermas vão definir como “a distinção das esferas de valores culturais”, ou seja, a distinção da arte, da moral, da ciência. Um exemplo que nos ajuda a compreender essa questão é que durante a Idade Média, Galileu não podia olhar livremente através do seu telescópio e relatar os resultados porque a arte, a ciência e a moral se fundiam na Igreja e, portanto, era a moral da Igreja que definia o que a ciência podia ou não fazer. A Bíblia dizia ou insinuava que o Sol girava em torno da Terra e ponto final. A arte e a ciência estavam submetidas à moral.

Com a diferenciação, as esferas de valores tornaram-se autônomas, independentes uma da outra. O problema é que a separação não se deu de forma amigável, elas não mantiveram seus pontos legítimos de conexão e então o que antes era uma mera dissociação transformou-se em fragmentação ou alienação.

E como já é sabido, devido, principalmente, às contingências políticas e econômicas, a ciência se torna hegemônica, poderosa e agressiva e começa então, a invadir e dominar as outras esferas e devido ao caráter de cientificismo, de materialismo científico, há uma desvalorização das outras esferas que sob o rótulo de não-científicas passam a ser consideradas como coisas ilusórias e de menor valor.

Nesse momento, a ciência estabelece-se como sinônimo de evolução da civilização. Progresso científico representava avanço da humanidade. Nesse sentido, todas as fichas eram apostadas na ciência.

Vale lembrar que naquele momento também se fazia presente o antropocentrismo. A idéia de que o homem era o centro do Universo, ganhava então um importante aliado, uma vez que a ciência seria o meio através do qual os recursos do mundo e da natureza seriam colocados à serviço do conforto e bem-estar da humanidade.

Por conta de todo esse prestígio, há uma supervalorização da técnica em detrimento da ética, ou seja, os parâmetros usados para avaliar o avanço da humanidade repousa em quanto mais científica e tecnicista ela se torna e não em quanto mais ela se especializa e qualifica para se torna uma rede que funciona como um suporte para que os indivíduos possam desenvolver plenamente suas dimensões social, afetiva, psicológica e espiritual.

O que assistimos hoje, entretanto, é que o progresso científico não foi traduzido em desenvolvimento da humanidade, pelo menos,não de uma grande parte dela. Podemos constatar facilmente que a ciência e todas suas beneces foram cooptadas pela política e pelos detentores do capital e dessa forma, os supostos benefícios ficam restritos a uma parcela bem pequena da humanidade.

É importante destacar que a consolidação da ciência moderna é acompanhada pela consolidação e legitimação de uma mentalidade extrativista e por conseqüência, a dicotomia entre homem e mundo.

O mundo, de um espaço de interrelações, passa a ser pensado simplesmente como um cenário, um objeto. E o ser humano, com sua identidade ontológica comprometida devido à ruptura de sua relação vitalizante com o mundo, torna-se, por sua vez, simplesmente um feixe de desejos em busca de satisfação, a qual deriva, principalmente, do contato com os objetos presentes neste mundo-cenário.

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